O retorno à escrita

"(...) é que gavetas que guardam textos inéditos assemellham-se a túmulos. Com uma diferença crucial e dramática:as gavetas literárias guardam ( e escondem) Vida e não restos inanimados. Daí, sua condição inaceitável para os que não gostam de ver vida sem ser vivida." 
                                                                                          Newton Novaes Barra

Foi depois de ler esse trecho de um livro que me achou, que decidi retornar a escrever. E depois de achar um lugar, tranquilo e suave, com sabores e aromas para inspirar minha alma. E aquietar a minha mente acelerada. Escrever requer intimidade consigo mesmo, tempo e espaço, mas isso não é bem uma verdade indiscutível. Descobri um lugar, onde pessoas passam ao meu redor, mas não me atrapalham, compõem o cenário. Posso encarnar minha personagem-escritora, uma das faces da Adriana. Um bistrô para chamar de meu, nas sexta em que estiver livre.

Escrever doi, dizem. Palavras são filhos que deveriam ser paridos normalmente, mas muitas vezes são retiradas a fórceps.

Penso em todas as crianças com problemas na escrita que atendi até hoje. Era pela letra feia, pelas trocas e omissões, dificuldades ortográficas ou mesmo a total impossibilidade de colocar no papel símbolos, que juntos, formam palavras, e unidas, pensamentos.Quanta angustia, Não poder expressar-se, sem ser corrigido, revelado, descoberto e julgado.

As crianças e jovens com problemas na escrita, passam pela escola como alguém que comete infrações, pequenos delitos. São penalizadas pelos ss,ç, ps e bs, confusos, letras instáveis, como normalmente são suas vidas.

"Escrever é ruim, por favor, não peça isso..."

 Não fazem registro, Querem fugir do papel, do lápis, das letras...e, infelizmente, dos livros.

"Posso falar, O que você quer ouvir? Para quê escrever?"

Residi nessa questão o problema, mas embutido está a solução. Escrever para quê? Escrever o quê?

Deixar fluir um pensamento, traduzi-lo em fala, Observar, discutir, assuntar.

Deixemos que falem.

Querem que o outro escreva, sem que lhe haja o quê.

Querem que o outro escreva, sem lhe dar porquês.

A escrita pode se tornar perigosa, Se você escreve algo, registro feito, Se assina, virá prova, muitas vezes mal interpretada, se virá contra seu autor. Se troca uma letra, se esquece um s num plural, um deslize torna-se a prova do crime, E a sentença: auto-punição. Distanciam-se da ferramenta poderosa que é escrever. Privam-se da comunicação através da palavra registrada.

Hoje trago de volta a minha própria escrita. Nada adormecida. Vive em mim, causando tumulto na minha cabeça, porque não lhe dou espaço. Bagunça a minha fala, deixando que tagarele o que poderia tornar palavra, registro.

Para esquentar, essa foi para aquecer. Quero compartilhar meus pensamentos, minha prática profissional, meus amores, As crianças são meu universo preferido, e será sempre por elas, que dedicarem parte do meu tempo.

Para elas, Quem sabe?

PHILIA foi criado para chamar de meu. E escreverei o que vier...

Adriana Amaral




Comentários

  1. Sabe aquele chamado da escrita? Você aceitou. Continue a nos brindar com as tuas partilhas.

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